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Um salto que nos faz corajosas

Tornar-se mãe é embarcar em uma jornada sem a possibilidade de volta. Sem volta para o tempo que você tinha. Sem volta para a tranquilidade de passar um fim de semana inteiro deitada no sofá, revezando entre cochilo e filme. Sem volta para a liberdade de fazer o que der na telha, a hora que for. Sem volta para poder sair de casa levando seu coração e sua mente inteiros com você. Sem volta para a vida perfeitamente planejada e dentro dos conformes. Sem volta para a sensação de controle absoluto. Sem volta para soluções milimetricamente perfeitas. Sem volta para pensar em você e para o tempo que sobra. Sem volta, minhas amigas. Sem volta para ser exatamente quem você era antes.

por Thaís Vilarinho

Thais Vilarinho e os filhos Matheus e Thomas
Thais Vilarinho e os filhos Matheus e Thomas

Eu sei, a primeira impressão ao ler essas palavras pode ser de que a maternidade é ruim, como uma espécie de prisão. Ou, até, como se a vida, tal e qual você conhece, caminhasse para o fim enquanto você está grávida. Mas, olha, não vá embora. Fique comigo e leia até o fim. Garanto que não é nada disso. Ao vivenciar essa experiência, percebemos que há beleza em não poder voltar, ainda que a conclusão chegue a duras penas.

A questão é que não ter volta faz a viagem ser a melhor de todas. Uma jornada que nos tira imediatamente da superfície segura e nos obriga a embarcar de corpo inteiro e de braços abertos rumo ao desconhecido. De encontro com a nossa luz e a nossa sombra. E isso de certa forma dói, mas ao mesmo tempo é transformador.

A impossibilidade de retorno é não ter escolha e ter que caminhar mesmo com dúvida, medo ou insegurança. É não ter mais possibilidade de ser egoísta, é se emocionar com histórias que antes não chamavam a nossa atenção. É entendermos os nossos pais.

Uma vez que não voltamos, queremos perdoar tudo. Notamos o coração inundado de empatia e solidariedade – inclusive umas pelas outras. Importamo-nos cada vez menos com o que os outros falam ou pensam. Aprendemos a ser mais seletivas e a valorizar as coisas simples, inclusive em meio ao caos. Descobrimos a preciosidade do tempo, da família e das verdadeiras amizades.

Viramos experts em entender um bebê que não fala nem uma palavra sequer ou em acolher com amor um adolescente que diz que não nos quer por perto. Encontramos um jeito, nem sei como, de nos desdobrar em mil sem intenção nenhuma de querer algo em troca.

Percebemos o que significa ser a luz, a paz, o abraço e a casa de um outro alguém. Conhecemos a maravilha e a responsabilidade de ser um mundo com infinitas possibilidades. Provamos o poder surpreendente do instinto.

O grande barato sobre ser mãe é perceber que tudo aquilo que não tem volta perde completamente o sentido diante do mergulho em direção à nossa essência. Um salto que nos faz corajosas, fortes, amadurecidas, inteiras e melhores. À primeira vista, a missão de cuidar de um outro ser humano pode até parecer uma amarra, mas, na verdade, é o caminho que nos leva ao encontro de nossa mais genuína liberdade.

Thais Vilarinho e os filhos Matheus e Thomas

Thaís Vilarinho

Fonoaudióloga, mãe dos adolescentes Matheus e Thomás, é autora de vários livros dedicados às mães, incluindo o best-seller Mãe Fora da Caixa, que deu origem à peça teatral de mesmo nome, e de 3 livros infantis. Com mais de um milhão de leitoras nas redes sociais, seus textos sensíveis acolhem todos os criadores de filhos.

@maeforadacaixa

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