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“O brasileiro deveria participar mais da política”

O povo brasileiro se interessa pouco por política partidária, o que é ruim, na opinião do cientista político Christian Lohbauer, porque acaba deixando as decisões que têm impacto em seu dia a dia na mão de outros

por Cristina Rappa

“Política serve para fazer a vida de todos ficar melhor”, ensina o também professor Christian Lohbauer, 50 anos. Segundo ele, infelizmente, o brasileiro participa pouco da política partidária; como consequência, não se sente representado pelo Congresso Nacional.

“Política é uma atividade missionária, mas as pessoas têm que entender que, se não se envolverem e participarem, outros cuidarão da vida delas”, diz ele, que faz a própria parte. Lohbauer participou de cargos de direção em diversas entidades setoriais (como Fiesp e das indústrias de aves, suínos e citros) e é um dos fundadores do Partido Novo, pelo qual é pré-candidato ao Senado.

Leia a entrevista com o cientista político, que dá aulas na Fundação Dom Cabral e ainda é diretor de uma multinacional:

aQuadra: As recentes eleições de Doria, Trump, Macri e mesmo Emmanuel Macron, na França, que fogem do perfil do político tradicional, sugerem que o eleitor estaria cansado dos políticos de sempre. Os eleitores estariam desiludidos com o quê?

Christian Lohbauer: Há uma tendência mundial nas democracias tradicionais do Ocidente, em que os cidadãos estariam cansados da burocracia, da falta de governança, da ineficiência dos serviços públicos e das desigualdades e começaram a se irritar com o modelo tradicional de política. Esta era em que estamos vivendo é muito intensa em termos de velocidade das informações e acelerou esse processo, que tende a continuar. Porém, a figura dos partidos políticos é importante; política sem partidos organizados e orgânicos não funciona. Outras modalidades estão nascendo e estamos no meio dessa transição.

aQuadra: Temos visto muitos políticos – e novamente cito Doria e Trump – comunicando-se fortemente por redes sociais como Twitter e Facebook. Como a mídia social está interferindo na forma de fazer política? Ela tem poder de causar transformação nesse setor?

CL: Espero que sim. Já é fato que a tecnologia, os telefones móveis, por exemplo, democratizaram bastante o acesso à informação. Mas também confundem muito e fazem a conversa política ficar muito rasa. Os 140 caracteres [do Twitter] são um símbolo do que as pessoas conseguem ler. Por outro lado, mais gente tem acesso à informação.

As redes sociais não decidem sozinhas uma eleição ainda, mas influenciam. Em 2016, o Novo, por exemplo, elegeu quatro vereadores pelas redes sociais, meio de comunicação mais usado por eles, que não tinham verba para campanha em outras mídias.

Agora, o Brasil ainda está mais atrás nesse processo, já que metade dos eleitores não está conectada. Eleição aqui ainda se dá em ambiente tribais, nos currais eleitorais mais tradicionais.

aQuadra: Como professor, o senhor tem contato com jovens. Acha que eles se interessam mais por política do que, por exemplo, a sua geração? Como cativar os jovens, formar novas lideranças?

CL: A geração de quem tem hoje entre 35 anos e 50 anos é uma das piores em matéria de envolvimento na política, talvez em função de uma herança meio maldita do regime autoritário.

Os jovens de 18 anos a 25 anos, na comparação com a geração anterior, são os que se interessam mais, na média. Mas, pelos grandes temas – como das liberdades individuais, das drogas, da orientação sexual – e não pela administração pública, pelo que é de todos.

A política serve para fazer a vida de todos ficar melhor. Carecemos de educação política, precisamos de uma agenda coletiva. O brasileiro não sabe o que é viver coletivamente. Povos que passaram por guerras – como os japoneses, europeus e até canadenses – aprenderam a ferro e fogo isso.

aQuadra: As pessoas criticam, reclamam dos políticos, mas pouca gente nova parece querer ingressar na política. Como o senhor acha que pode ser a participação do cidadão? Atuar no bairro, na comunidade, na universidade, na entidade empresarial já seria um começo?

CL: Sim, reunião de condomínio ou para tratar de temas de interesse do bairro já é atividade política. Mas pela política partidária, que tem papel fundamental na criação das leis, ou seja, por essa instância as pessoas não se interessam e não se fazem representar.

O Congresso Nacional não representa a sociedade brasileira. A sociedade é melhor do que o Congresso. A diferença entre o privado e o público é um verdadeiro desastre. Se existe capacidade para fazer bem no privado, por que não fazer direito no público?

Ter cargo público remunera pouco, dá trabalho e ainda implica diversos riscos. Enfim, política é uma atividade missionária, mas as pessoas têm que entender que, se não se envolverem e participarem, outros cuidarão da vida delas.

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