E que valoriza o entorno?
O arquiteto Didi Pei mandou uma carta dizendo que iria “fazer um projeto tão maravilhoso que vai valorizar toda a vizinhança”. Um sócio comentou: “que absurdo, nós estamos pagando para ele valorizar os outros”! É preciso compreender a extensão do que se está fazendo. Valorizar o outro não é uma atitude altruísta, é um egoísmo inteligente.
O B32 tem alguns conceitos que a gente não encontra facilmente, não é?
Ao fazer o projeto, andei pela avenida Faria Lima com o paisagista, e percebemos que não há prédios com urbanismo integrado à cidade. Os prédios têm cerca para afastar as pessoas, o viário é dominante, não há lugar para sentar afim de evitar que mendigos ocupem – deixa sentar o mendigo, qual é o problema? Quando falo em paisagismo, é paisagismo humano, um bom ambiente para as pessoas. Nossos projetos são dominados pela visão que chamamos de paisagismo mas que é jardineira – jardins com belos desenhos – e viário, que não segue as instruções dos experts do trânsito. No B32, limitamos o acesso de carros nas bordas, sendo externo, não cruza o prédio porque há uma área pública, ao contrário de prédios que fazem arquitetura de guerra para evitar que as pessoas acessem.
Isso se deve à segurança?
Junto com conceitos errados da construção civil, a falta de segurança matou o urbanismo no Brasil. Temos cidades disfuncionais, pouco agradáveis, com construções cada vez mais longe do centro. O conceito de transporte também prejudicou muito. São Paulo, por exemplo, tinha 300 km de linhas de bonde nos anos 1930, daí mataram tudo, quebraram a represa e fizeram rodovias imensas, esticando a cidade. Quando há uma estrutura pesada de transporte, como o trilho, concentra a infraestrutura porque é difícil expandir, mas ao esticar a cidade por meio de avenidas, estica a infraestrutura e se constroem casas populares muito longínquas, que faz com que o morador passe 3 horas no ônibus para chegar ao emprego. Essas ideias são conceitos ideológicos, que pregam que empresários são um bando de capitalistas sedentos por dinheiro e o Estado só pensa no bem público. Não é verdade. São distorções que interferem no urbanismo. Eu acho que a cidade devia crescer organicamente, errando, acertando e evoluindo. Antigamente, as cidades eram assim, o centro de São Paulo era assim, e tudo isso se perdeu ao definirem regras genéricas.
Pela sua experiência no B32, essa proposta dos espaços abertos, com a escultura da baleia que atrai as pessoas, tem sido positiva?
Quando apresentamos o projeto para a vizinhança e contávamos que haveria cadeiras soltas, diziam “não pode, vão roubar”. Mas pense: os brasileiros vão ao Parque Luxemburgo, em Paris, ou ao Central Park em Nova York, e não roubam cadeiras. Tem uma educação, regras. Aqui, temos que experimentar essas coisas. Ninguém roubou nenhuma cadeira. Depois de dois anos de aberto, as pessoas ainda não se sentem totalmente à vontade para usar. O que a gente chama de cidade melhor são, em parte, essas pequenas coisas, pequenos gestos, pequenas atitudes. A gente quer que a pessoa desça na hora do almoço, que ela possa sentar em uma espreguiçadeira para aproveitar um pouco de sol, ou nas cadeiras para conversar com amigos.
Deixa a cidade mais humana?
A grande fronteira do mercado imobiliário é o urbanismo. Não se tratam de 2 ou 3 quartos, mas de fazer um produto urbano e tornar a cidade mais agradável com aquele conceito da externalidade positiva e negativa, quer dizer, se todo mundo pensar assim, nós vamos melhorando a cidade, deixando-a mais aberta, onde as pessoas se sintam bem e, por consequência, valorizar todos os prédios.