aQ: Em São Paulo há quase 40 anos, você sente falta de alguma coisa da França?
EB: Eu não diria que eu sinto falta, porque amo o Brasil e me sinto muito bem aqui em São Paulo, mas eu vou te dizer que quando o avião pousa em Paris, penso, imediatamente, em “flanar”.
Lá eu ando livremente, sem destino, entrando e saindo de lugares convidativos e sem rumo, sem um compromisso com isto ou aquilo. Flanar é um pouco como andar sem direção, saboreando o que eu vejo pelas ruas e desfrutando do momento. É uma coisa que eu não faço com frequência aqui.
Outra coisa que acontece comigo na França é a vontade de dirigir. Não gosto de dirigir em São Paulo, pego táxi. Mas, quando chego na França, não sei explicar, mas eu me transformo. Alugo um carro e saio pelas autoestradas entre os vilarejos. Não é porque sou francês ou porque conheço. É porque é fácil, é prazeroso.
aQ: O que você leva daqui, quando vai para a França e o que você traz de lá em suas viagens.
EB: Eu descobri que levar Cachaça é o que mais agrada. Eu já levei de tudo, do Norte ao Sul do Brasil, mas a cachaça é universal. Que seja a branca, a dourada, envelhecida, pouco importa, todo mundo adora, abre e começa a preparar a caipirinha e já vira uma festa.
Além do mais, uma vez fui à casa da minha irmã e vi garrafas vazias de cachaça, porque elas têm decorações diferentes e percebi que ela registra uma memória afetiva, porque se torna uma lembrança de uma confraternização.
É como você levar o ar do Brasil para lá. A cachaça simboliza esta atmosfera brasileira. Este é o meu jeito, talvez porque o meu universo dos prazeres da mesa.
E quando eu volto, eu trago queijos. O limite é 5kg e se vou com minha mulher, trago 10 quilos de queijo! Mesmo! Sobretudo o Comté e fica de dica para os leitores do jornal. Pede para fechar a vácuo e pode jogar na mala entre as roupas, porque não fica com cheiro. Chegando no Brasil, só colocar no congelador e ir tirando aos poucos. Elé é um queijo fácil, prático e gostoso.
O Comté é um queijo que está entre o Beaufort e o Emmental, difícil de encontrar aqui, mas que agrada a todos os paladares e a todos os bolsos. Ele é produzido nas montanhas de Jura na fronteira com minha terra Natal, Borgonha. Ele tem classificações de envelhecimento de 6, 8 ou 12 meses, que são mais adocicados, depois ele vai “afinando” (como dizemos), outra que vai a 18, 22, 24 meses e depois a classificação de 32, 34 e 36 meses. Assim como os vinhos, quanto mais envelhecidos, mais caros eles são. Conforme o seu envelhecimento, ele tem um valor e por esta razão, também é um queijo democrático. Ele tem toda uma história a ser contada e volto com ele, presenteio os amigos e conto sua história entre as suas diferentes texturas e sempre agrada.
Esta é uma dica minha, que nunca contei a ninguém. Seus leitores serão os primeiros a ter esta dica. Faço isto desde os anos 2.000, quando eu e você fazíamos nossos grupos gastronômicos para a França!